A imagem de Ofélia em sua loucura não melhor me representaria...
Enquanto durarem nossas provisões e nossos nobres sentimentos, permaneçamos assim abraçados
Na relva deitados, acolhidos pelo calor suave desta tarde de primavera.
Mas quando se acabarem de carinhos nossos temperamentos, levanta-te e parte
Antes que parta em desavença o nosso desencontro, e encha-se de amargura.
Só, em meus pensamentos, eu não choro. Não por falta da vontade, mas pela inércia de ser forte.
Todas estas cicatrizes que sempre vão se abrir em mim jamais encontrarão cura, ou lar...
E poderiam? E deveriam? ...
Eu afogo-me em livros, aventuro-me pela noite, vagueio em meus próprios devaneios, por simples e pura subserviência a um deus sufocante que não dispõe de créditos a meu favor em retorno à minha cega obediência e servitude. Pulo de filme em filme, enredos que me façam esquecer que não se pode viver de água e sombra... Busco refúgio em um futuro irreal que me faça companhia e traga felicidade, enquanto fica à mercê da realidade me devorar...
Isso não são versinhos bonitos para você elogiar ou repudiar. São minha alma escancarada.
Um diálogo no palco. A peça? Minha vida.
Ato 1
Lu - Se não deres conta de servir a si mesma ao menos escolha servir uma mão que não lhe atire pedras. quiçá uma que lhe dê afagos...
Li - Tal qual a tua?
Lu - Decerto há pessoas que lhe dispensam muito mais afagos.
Li - Mais que ti? Duvide disso, meu caro. Das demais lhe digo que são mãos maternais que mais bem proveriam se fossem de minha mãe ou que são mãos sujas de lascívia...
Lu - Por quê?
Li - Não sei... Estou muito só de irmãos, e não há ninguém além de mim para preencher essa lacuna que em mim fica gritando por socorro...
Ato 2
Li - Acho que nunca fui tão feliz quanto agora. Sabes por quê?
Lu - Por quê?
Li - Sinto-me pela primeira vez presente no palco da minha vida, atuando como eu mesma, caracterizada em minha própria pele, teatralmente exibindo tudo de mais anti-fictício que há em mim. ... E dói! E essa dor que eu nunca sinto talvez seja tudo o que eu precise para me motivar a sair do camarim...
Lu - Os aplausos e vaias aguardam-na.
Li - Não os temo; não é a platéia que aguarda atenta ou violenta que me assusta aos ossos. Minha mais cruel platéia sou eu.
Ato 3
Li - Sabes o que mais me falta?
Lu - Pois diga.
Li - Um lar, Lu, um simples lar. E sabes o que me mais dói? A maldita impotência de criá-lo.
Lu - Você se pretende potente... Já me disses tantas vezes capaz de realizar teus mais ousados intentos...
Li - Sim, sim, pois a ousadia não é essencial. E o que é essencial é que me fere.
Lu - E o que lhe é essencial?
Li - O lar. O amor. A família. A dignidade...
Lu - Por que não construir?
Li - Eu quero! Não me falta desejo... faltam-me condições. E para fugir disso vivo ilusionalmente num futuro confortável. Mas quando acordo é a minha vida triste que ainda está aqui, estagnada e pobre de vivacidade e de essencialidades...
Lu - Faça diferente.
Li - Me conduz.
Lu - Não sou dos melhores modelos...
Li - Pois que desconheço qualquer trilha plausível. Não me eleve se não podes subir pois não vejo nada além.
Lu - Onde estão tuas amizades? Tua independência? Teu desejo?
Li - Minhas amizades eu mesma desfiz quando destruí as pontes de distância que criei; minha independência eu perdi numa cama imunda e irresponsável; e meu desejo eu enterrei fundo em mim para não ter que vê-lo e que só me mate os sentidos pela dor de saber que existe, sem conhecê-lo.
Lu - Conquiste e se liberte.
Li - Me diga como e lhe direi que sim.
Lu - Escolha o que lhe dá vida. Pequenas mortes nos deixam viver.
Ato 4
Lu - Esta cidade é um círculo, cabe na palma de minha mão.
Li - Ainda assim não conheço quase ninguém. Melhor pensando, não conheço ninguém.
Lu - E qual tua pretensão de conhecer?
Li - Imensa.
Lu - E o quanto procura?
Li - Pouco dos outros, muito de mim.
Ato 5
Li - Preciso partir agora, e refletir.
Lu - Vá, e diga ao mundo que você está certa.
Li - Como posso lhe agradecer?
Lu - Viva.
Li - Me surpreendes a cada dia, e isso me alegra também. Sou-lhe graticíssima.
Lu - Não faço nada além de meu desejo.
Li - Tentarei seguir este seu posicionamento... Até breve.
Lu - Sabes onde me encontrar, e és bem-vinda em minha casa.
Talvez até mais do que o suficiente tenha se dito, e tenha sido dito. E tem algumas questões às quais eu não desejo responder - o que SIM, me impede de respondê-las.
A alma não está nos pés, por isso mantenha erguida sua cabeça, e o corpo segue em movimento a batida da música que eu lhe ofereço. Chegou a hora de trazer à tona quem está por dentro, enclausurada. E quando ambos se encontrarem - eu que aparento e eu que sou - um novo eu surgirá, um eu que nem mesmo eu conheço. Ultrapassa-me o alcance de prever-me quem serei em breve, mas uma coisa é certa.
Nada farei além de meu desejo, porque escolho viver - e respirando, dessa vez!
Oh! Me mataram! (Cai e morre).
Enquanto durarem nossas provisões e nossos nobres sentimentos, permaneçamos assim abraçados
Na relva deitados, acolhidos pelo calor suave desta tarde de primavera.
Mas quando se acabarem de carinhos nossos temperamentos, levanta-te e parte
Antes que parta em desavença o nosso desencontro, e encha-se de amargura.
Só, em meus pensamentos, eu não choro. Não por falta da vontade, mas pela inércia de ser forte.
Todas estas cicatrizes que sempre vão se abrir em mim jamais encontrarão cura, ou lar...
E poderiam? E deveriam? ...
Eu afogo-me em livros, aventuro-me pela noite, vagueio em meus próprios devaneios, por simples e pura subserviência a um deus sufocante que não dispõe de créditos a meu favor em retorno à minha cega obediência e servitude. Pulo de filme em filme, enredos que me façam esquecer que não se pode viver de água e sombra... Busco refúgio em um futuro irreal que me faça companhia e traga felicidade, enquanto fica à mercê da realidade me devorar...
Isso não são versinhos bonitos para você elogiar ou repudiar. São minha alma escancarada.
Um diálogo no palco. A peça? Minha vida.
Ato 1
Lu - Se não deres conta de servir a si mesma ao menos escolha servir uma mão que não lhe atire pedras. quiçá uma que lhe dê afagos...
Li - Tal qual a tua?
Lu - Decerto há pessoas que lhe dispensam muito mais afagos.
Li - Mais que ti? Duvide disso, meu caro. Das demais lhe digo que são mãos maternais que mais bem proveriam se fossem de minha mãe ou que são mãos sujas de lascívia...
Lu - Por quê?
Li - Não sei... Estou muito só de irmãos, e não há ninguém além de mim para preencher essa lacuna que em mim fica gritando por socorro...
Ato 2
Li - Acho que nunca fui tão feliz quanto agora. Sabes por quê?
Lu - Por quê?
Li - Sinto-me pela primeira vez presente no palco da minha vida, atuando como eu mesma, caracterizada em minha própria pele, teatralmente exibindo tudo de mais anti-fictício que há em mim. ... E dói! E essa dor que eu nunca sinto talvez seja tudo o que eu precise para me motivar a sair do camarim...
Lu - Os aplausos e vaias aguardam-na.
Li - Não os temo; não é a platéia que aguarda atenta ou violenta que me assusta aos ossos. Minha mais cruel platéia sou eu.
Ato 3
Li - Sabes o que mais me falta?
Lu - Pois diga.
Li - Um lar, Lu, um simples lar. E sabes o que me mais dói? A maldita impotência de criá-lo.
Lu - Você se pretende potente... Já me disses tantas vezes capaz de realizar teus mais ousados intentos...
Li - Sim, sim, pois a ousadia não é essencial. E o que é essencial é que me fere.
Lu - E o que lhe é essencial?
Li - O lar. O amor. A família. A dignidade...
Lu - Por que não construir?
Li - Eu quero! Não me falta desejo... faltam-me condições. E para fugir disso vivo ilusionalmente num futuro confortável. Mas quando acordo é a minha vida triste que ainda está aqui, estagnada e pobre de vivacidade e de essencialidades...
Lu - Faça diferente.
Li - Me conduz.
Lu - Não sou dos melhores modelos...
Li - Pois que desconheço qualquer trilha plausível. Não me eleve se não podes subir pois não vejo nada além.
Lu - Onde estão tuas amizades? Tua independência? Teu desejo?
Li - Minhas amizades eu mesma desfiz quando destruí as pontes de distância que criei; minha independência eu perdi numa cama imunda e irresponsável; e meu desejo eu enterrei fundo em mim para não ter que vê-lo e que só me mate os sentidos pela dor de saber que existe, sem conhecê-lo.
Lu - Conquiste e se liberte.
Li - Me diga como e lhe direi que sim.
Lu - Escolha o que lhe dá vida. Pequenas mortes nos deixam viver.
Ato 4
Lu - Esta cidade é um círculo, cabe na palma de minha mão.
Li - Ainda assim não conheço quase ninguém. Melhor pensando, não conheço ninguém.
Lu - E qual tua pretensão de conhecer?
Li - Imensa.
Lu - E o quanto procura?
Li - Pouco dos outros, muito de mim.
Ato 5
Li - Preciso partir agora, e refletir.
Lu - Vá, e diga ao mundo que você está certa.
Li - Como posso lhe agradecer?
Lu - Viva.
Li - Me surpreendes a cada dia, e isso me alegra também. Sou-lhe graticíssima.
Lu - Não faço nada além de meu desejo.
Li - Tentarei seguir este seu posicionamento... Até breve.
Lu - Sabes onde me encontrar, e és bem-vinda em minha casa.
Talvez até mais do que o suficiente tenha se dito, e tenha sido dito. E tem algumas questões às quais eu não desejo responder - o que SIM, me impede de respondê-las.
A alma não está nos pés, por isso mantenha erguida sua cabeça, e o corpo segue em movimento a batida da música que eu lhe ofereço. Chegou a hora de trazer à tona quem está por dentro, enclausurada. E quando ambos se encontrarem - eu que aparento e eu que sou - um novo eu surgirá, um eu que nem mesmo eu conheço. Ultrapassa-me o alcance de prever-me quem serei em breve, mas uma coisa é certa.
Nada farei além de meu desejo, porque escolho viver - e respirando, dessa vez!
Oh! Me mataram! (Cai e morre).